27/04/2017 - Cinectus

Café Society (2016) [Review]

Nenhum filme de Woody Allen é igual ao outro, mas a cada obra que dirige e escreve deixa sua marca registrada, você sabe que está lá, é ele por traz das câmeras e dos diálogos. Allen é judeu e um “crítico ferrenho” da própria crença e cultura (Dirigindo no Escuro, 2002), gosta de apresentar cenários e figurinos da década de ouro do cinema ou em outra época qualquer onde mostra uma pequena parte do meio social da elite (Tiros na Broadway, 1994 – Meia-Noite em Paris, 2011 – A Era do Rádio 1987 ou A Rosa Púrpura do Cairo, 1995) ou ainda construindo e destruindo seus protagonistas como em  Blue Jasmine, 2013.

Desta vez Jesse Eisenberg, Kristen Stewart e Steve Carell formam o trio amoroso dessa conturbada relação. A sinergia entre Kristen e seus dois amores funciona muito bem! Como queridinha da vez, Kristen não decepciona (conseguindo deixar que o espectador esqueça o esteriótipo de sua atuação sofrível da série “Crepúsculo”). 

Não é o melhor trabalho (dos mais recentes) de Allen, afinal, é um diretor octogenário que trabalha em 3 ou mais filmes por ano (contando com produção, roteiro e direção), mas o trabalho respeita seus fãs com um belo filme.

OBS: E se formos olhar pela narrativa é ainda melhor que o badalado “La La Land” (2016).

Nota: 7,5

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=n5EE3TOUlE8&w=700&h=361]

Embora Café Society mantenha o espírito leve e o clima solar dos filmes de desencontros amorosos recentes de Woody Allen, Magia ao Luar e O Homem Irracional, o longa estrelado por Jesse Eisenberg e Kristen Stewart traça para si uma insuspeita aspiração de ser síntese de uma época, o que o aproxima de registros históricos melancólicos de Allen como A Era do Rádio, A Rosa Púrpura do Cairo e Tiros da Broadway.

Se Café Society se revela um filme mais ambicioso do que aparenta de início, isso se deve não apenas ao material, mas principalmente à fotografia de Vittorio Storaro. O mestre italiano, conhecido por Apocalypse Now e por ditar o tom dos principais filmes de Bernardo Bertolucci, mantém uma identidade visual com os outros longas recentes de Allen – a maneira como filtra a luz solar estabelece familiaridade com a fotografia de Darius Khondji – mas adiciona um tom barroco (Kristen Stewart é praticamente beatificada nos close-ups de Storaro) e uma elegância de movimentos de câmera que Allen, conhecido pela rapidez com que filma, raramente se permite.

O resultado é, ao mesmo tempo, discreto e deslumbrante. Allen faz mais um dos seus longas sobre pequenas relações problemáticas (“uma vida sem se examinar é uma vida que não vale a pena ser vivida”) mas alça esses personagens a emblemas de seu tempo, corpos que emanam luz própria, como os ídolos da Velha Hollywood que eram intangíveis, embora todos repetissem seus nomes à exaustão. (Omelete)

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