Se Eu Fechar Os Olhos Agora | Crítica

Em ‘Se eu fechar os olhos agora’, minissérie escrita por Ricardo Linhares, inspirada no livro de Edney Silvestre, com direção artística de Carlos Manga Jr., voltamos através das memórias de Paulo (João Gabriel D’Aleluia/Milton Gonçalves) ao início dos anos 1960 e viajamos até a fictícia São Miguel, no interior do estado do Rio de Janeiro.

Ali, ao lado do amigo Eduardo (Xande Valois), ele descobre que, no fundo, ninguém é o que aparenta. A minissérie vai ao ar na Globo entre 15 e 30 de Abril. e também disponível na íntegra para os assinantes do Globoplay.

Durante uma fuga da escola, Paulo e Eduardo encontram o corpo da jovem Anita (Thainá Duarte) à margem de um lago. Acusados de um crime que não cometeram, eles percebem que existe um mistério maior em torno do caso, envolvendo figuras importantes da sociedade de São Miguel, como o prefeito Adriano Marques Torres (Murilo Benício), a primeira-dama Isabel (Débora Falabella), o empresário Geraldo Bastos (Gabriel Braga Nunes) e sua esposa Adalgisa (Mariana Ximenes), além do dentista e marido da vítima, Francisco (Renato Borghi). Todos estão envolvidos de alguma forma com Anita.

Por conta própria, os garotos iniciam uma perigosa investigação, com ajuda de Ubiratan (Antonio Fagundes), cuja motivação não fica clara no início, sendo revelada apenas ao longo da trama.

Ao longo da minissérie, outros crimes acontecem. Paulo, Eduardo e Ubiratan precisam esclarecê-los para não se tornarem as próximas vítimas. Eles acabam se envolvendo em uma trama que ameaça o jogo político e social de São Miguel.

Apesar de protagonizada por personagens masculinos e ambientada em uma cidade dominadas por homens, são os personagens femininos que entregam as melhores momentos. A primeira-dama Isabel (Débora Falabella), a “moderna” Adalgisa (Mariana Ximenes) e Anita (Thainá Duarte) que aparece em vários flashbacks, roubam a cena.

Anita (Thainá Duarte) – cujo assassinato desencadeia a investigação que terminará por trazer à tona segredos das figuras mais importantes de São Miguel.

Isabel Marques Torres (Débora Falabella)– Primeira-dama de São Miguel, casada com Adriano (Murilo Benício) e mãe de Cecília (Marcela Fetter) e Vera Lúcia (Júlia Svacinna). Respeita o marido, mas está cansada da posição de esposa eficiente e dona de casa perfeita. Vive em conflito entre extravasar seus desejos e o compromisso com a sociedade local.

Adalgisa Bastos (Mariana Ximenes) – Esposa de Geraldo (Gabriel Braga Nunes) e mãe de Edson (Gabriel Falcão). Mulher à frente de seu tempo, Adalgisa é exuberante e carismática. Veste-se com elegância e também com ousadia para os padrões de São Miguel. Usa calças compridas, bebe e fuma em público com desembaraço. Tem sempre uma taça de dry martini na mão e costuma estar duas doses acima do resto das pessoas.

ENTÃO É MAIS UMA SÉRIE DE “CIDADEZINHA APARENTEMENTE PERFEITA MAS CHEIA DE PODRES“?

É neste ponto que a série tem seu diferencial: já é esperado o panorama da comunidade harmoniosa, vivendo numa bolha de felicidade aparente e que é arrasada por um crime violento. Do clássico Twin Peaks (1990) à britânica Safe (2018) já estamos bem acostumados. Mas em ‘Se eu fechar os olhos agora’, acompanhamos também o amadurecimento precoce dos garotos ao descobrirem o lado obscuro da cidade onde vivem. E a alternância entre o Paulo criança e a narração já como um homem maduro, torna ainda mais interessante esta série.

E para nós – já bastante “evangelizados” pela Netflix em assitir este tipo de conteúdo, seja americano, britânico, espanhol,  coreano e até da islândia – já passou da hora de prestigiar uma ótima produção 100% nacional.

Nota Cinectus: 8,0