16/09/2017 - Cinectus

“Made In Korea” na Netflix

Nosso leitor Fernando Simões, cinéfilo de carteirinha e descobridor de pérolas no Netflix, tem curtido bastante séries coreanas.

O cinema do país de Doona Bae (Sense 8),  não é difundido no Brasil. Todo mundo conhece Samsung e Hyundai, mas o nome de um ator/atriz coreano é bem difícil de lembrar.

Na sua estratégia de internacionalização, a gigante do streaming tem agregado a seu acervo conteúdo com sabor local. Como resultado, temos novas opões de séries e filmes de qualidade com pegada diferente da tradicional indústria americana.

É o que nos explica o Fernando no ótimo texto abaixo.

Festival de Séries Coreanas

A Coreia do Sul está na moda, não apenas pelos mísseis que saem voando do norte de sua península, os aparelhos eletrônicos de última geração e o KPOP (musica pop coreana). Agora também pela invasão de séries e filmes coreanos no Netflix.

Se você quer sair do comum e saborear um estilo diferente de fazer séries. Séries que realmente te surpreendam, séries que você não descobre o assassino no segundo episódio, que a mulher não morre no final e quem matou….não foi o marido, continue lendo até o final.

Para entender as particularidades das séries, é preciso entender o contexto do país de origem. A Coreia do Sul situa-se na Ásia e tem área similar à Pernambuco com a população do estado de São Paulo, ou seja, uma incrível densidade demográfica de mais de 400 habitantes por Km2 (São Paulo tem densidade de 180hab./Km2).

De 1910 até 1945 a Coreia esteve sob o domínio do Japão e ao final da guerra foi dividida entre EUA e União Soviética. O tempo sob o domínio do Japão deixou marcas profundas na população e até hoje existem pedidos de indenizações por parte de famílias coreanas ao governo do Japão. Se não há animosidade declarada entre as duas nações, a relação é no mínimo “distante”. Mesmo assim a cultura japonesa influência muito a coreana.

Os seriados da Coreia do Sul podem ser divididos em dois grandes grupos, ação/suspense e os romances.

A sociedade coreana é até certo ponto ingênua para os padrões brasileiros: a pornografia e prostituição são proibidas por lei, os envolvimentos românticos na TV são bem leves e até certo ponto cômicos. Os seriados românticos coreanos podem agradar o público adolescente que curte a cultura Idol e KPOP.  Para uma audiência mais madura que busca sitcoms com um toque de romantismo, os seriados românticos da Coreia não são boa opção. São lúdicos e até caricatos, pendendo para o lado do Lolicom ou Kawaii (“fofinho”).

Os seriados policiais/ação agradam uma audiência mais ampla, com tramas envolventes e bem costuradas, pitadas de drama acompanhadas de alivio cômico e muito suspense. Algumas coisas são bem inusitadas para nós, como por exemplo, todas as marcas dos carros cobertas, um close bem dado em uma faca tática militar e trajas em uma faca longa de açougueiro. Aliás os seriados são cheios de tarjas, facas longas tem tarjas, ferimentos maiores tem tarjas, marca de carros tem tarja, quadros na parede tem tarja, capa de livros tem tarja. Aí fica a pergunta: por que filmar um quadro no fundo da cena se ele vai ter tarja na edição final?

Comento três seriados policiais que descobri no Netflix e que achei bem interessantes:

Stranger / Bimilui Soop / Forest of Secrets (Brasil / Coreia / EUA )

Estrelado pelo galã Seung-woo Cho (Chunhyang – Amor ProibidoMaraton) e pela maior estrela da Coreia do Sul na atualidade: Doona Bae. Conta uma intrigante história de assassinato investigado pelo Promotor Si-Mok (Seung-woo Cho) e Yeo-Jin (Doona Bae, ótima no papel), uma tenente que aspira um romance aparentemente impossível com o promotor, já que este por um problema de saúde não possui sentimentos. É hilário como o  promotor ignora a tenente e parte objetivamente atrás da resolução de qualquer pequeno problema ou situação.

A trama é muito bem amarrada e um simples assassinato leva os investigadores a descobrirem envolvimento politico de várias personalidades importantes – praticamente uma Lava Jato Coreana. No começo de cada episódio é lembrado que é uma obra de ficção e sem correlação com a realidade – certamente motivado pelo recente escândalo envolvendo um dos maiores empresários do país e a presidente –  e que culminou com a prisão do empresário e o impeachment da presidenta.

Bad Guys

Estrelado pelo ótimo Dong-seok Ma (Trem para Busan / Invasão Zumbi) e por  Hae-Jin Park (Maen too Maen). O tema central da série é meio incompreensível para nós: a polícia não usa armas de fogo (com exceção da polícia especial tipo SWAT) e não está acostumada com indivíduos violentos. Sim, isso é real na Coreia do Sul! Os índices de “violência” caem ano a ano e a população não possui armas de fogo, o maior ofensor de segurança é o furto de bicicleta (quase ninguém passa cadeado na bicicleta em Seul).

Após perder seu filho para um criminoso violento, o chefe de polícia decide utilizar indivíduos violentos para pegar criminosos violentos e retira os “Bad Guys” da cadeia para caçar criminosos em troca da redução de suas penas. A série tem boas pitadas de drama e o alívio cômico fica a cargo Dong-seok Ma , impagável com um ex-brutamontes da máfia que vive se metendo em encrenca por ser meio burro.

O final da primeira temporada é surpreendentemente bom e  mostra cenas dos bastidores com os atores e a produção num clima divertido como a própria série e dão um spoiler da próxima temporada que aguardo ansiosamente.

Gap Dong

Mais puxado para o drama, esta série policial mostra como as pessoas que investigam um serial killer convivem com os traumas das vitimas e neuroses de uma mente psicopata.

A trama, como é de costume em seriados coreanos, é muito bem elaborada mostrando o detetive Ha (Sang-Hyun Yoon) na caçada passional ao “Gap Dong” (serial killer) ajudado pela médica Maria Oh (Min-jung Kim).

No desenrolar da trama, os dramas pessoais de cada personagem se entrelaçam com o assassino, em um forte drama psicológico.

A série agrada na parte de suspense policial, que norteia o veio de mistério em todos os capítulos. Há bons momentos de romance e comédia, mas que não chegam nem perto de aliviar o tom mais psicológico da série.

O final não é somente triste mas também meio sem esperança, não recomendado para quem passa por uma fase difícil.

Se você como Fernando descobriu uma ótima série/filme no serviço de streaming ou naquele horário improvável na programação da sua TV por assinatura, comente aqui no Blog ou em nossa Fan Page no Facebook. Compartilhe sua opinião!

One Comment

  1. […] pela Netflix em assitir este tipo de conteúdo, seja americano, britânico, espanhol,  coreano e até da islândia – já passou da hora de prestigiar uma ótima produção 100% […]

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